segunda-feira, 9 de junho de 2014

É, Caio, quem disse que a vida era tranquila?

Caio lembrou o quanto Sara estava longe, naquele momento; houvera se dado conta de que jamais a veria novamente... Apenas para sua própria tristeza, tão somente para cultivar uma saudade que usualmente pareceria nunca cessar.
Palmilhando uma rua punk de uma cidade punk, não podia negar a miséria que contaminava sua alma. Olhou para cima, divisou a lua cheia entre as nuvens negras e secretamente, pediu, implorou por redenção, qualquer que fosse. Entretanto, ele sabia–sentia que Deus nunca existiu, e sentiu que, definitivamente, seria impossível conforto algum para um coração perturbado como o seu...
Entrou em um bar (chique, aliás), e praticamente ordenou ao bartender que lhe entregasse uma garrafa de Johnny Walker. Eis que viu Jezebel sentada a seu lado, e naquele momento percebeu, surpreso, que ela lhe oferecia a chance de cometer todos os pecados.
E então a seguiu para seu apartamento – sentia que sua ansiedade parecia mesmo lhe indicar como se comportar, origem de um desejo pungente. Uma pulsão animalesca lhe ordenava rasgar as roupas de Jezebel, beijá-la, lambê-la, sentir seu sabor, mordê-la, acariciá-la, estapear seu rosto, tudo isso com um único intuito: esquecer a saudade que nutria por Sara, sentimento que agora acreditava irremediavelmente parte permanente de sua alma!

Ao acordar, viu o primeiro raio de sol, a luz primeira da aurora a iluminar a pele tão branca daquela desconhecida, seu cabelo ruivo; ouvia sua respiração. Dirigiu-se a uma janela para poder fumar um cigarro, quando teve a certeza de que continuava tão vazio quanto na noite anterior a tudo aquilo. Surpreendeu-se ao ouvir um Daft Punk, ainda que distante, àquela hora da manhã ("lose yourself to dance...") e sentiu que os próximos dias seriam difíceis. Nada intuía sobre seu futuro emocional imediato, e também nem estava interessado em saber...


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