Caio
lembrou o quanto Sara estava longe, naquele momento; houvera se dado conta de
que jamais a veria novamente... Apenas para sua própria tristeza, tão somente
para cultivar uma saudade que usualmente pareceria nunca cessar.
Palmilhando
uma rua punk de uma cidade punk, não podia negar a miséria que contaminava sua
alma. Olhou para cima, divisou a lua cheia entre as nuvens negras e
secretamente, pediu, implorou por redenção, qualquer que fosse. Entretanto, ele
sabia–sentia que Deus nunca existiu, e sentiu que, definitivamente, seria
impossível conforto algum para um coração perturbado como o seu...
Entrou
em um bar (chique, aliás), e praticamente ordenou ao bartender que lhe
entregasse uma garrafa de Johnny Walker. Eis que viu Jezebel sentada a seu lado,
e naquele momento percebeu, surpreso, que ela lhe oferecia a chance de cometer
todos os pecados.
E
então a seguiu para seu apartamento – sentia que sua ansiedade parecia mesmo
lhe indicar como se comportar, origem de um desejo pungente. Uma pulsão
animalesca lhe ordenava rasgar as roupas de Jezebel, beijá-la, lambê-la, sentir
seu sabor, mordê-la, acariciá-la, estapear seu rosto, tudo isso com um único
intuito: esquecer a saudade que nutria por Sara, sentimento que agora acreditava
irremediavelmente parte permanente de sua alma!
Ao
acordar, viu o primeiro raio de sol, a luz primeira da aurora a iluminar a pele
tão branca daquela desconhecida, seu cabelo ruivo; ouvia sua respiração.
Dirigiu-se a uma janela para poder fumar um cigarro, quando teve a certeza de
que continuava tão vazio quanto na noite anterior a tudo aquilo. Surpreendeu-se
ao ouvir um Daft Punk, ainda que distante, àquela hora da manhã ("lose
yourself to dance...") e sentiu que os próximos dias seriam difíceis. Nada
intuía sobre seu futuro emocional imediato, e também nem estava interessado em
saber...
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